O que dizer de um disco que tirou do marasmo o rock nacional? O que dizer de um disco que trouxe à tona uma das artistas mais influentes e importantes da história da música contemporânea brasileira, respeitada por nomes como Rita Lee, Zé Ramalho, Ira! e vários outros monstros da música? É difícil quando se está no olho do furacão saber as proporções das coisas. O vento foi forte e hoje quase 11 anos depois de seu lançamento, será que ACN mantêm o status de álbum de uma geração?
Pitty é uma daquelas artistas que te fazem refletir. Esse disco foi responsável pela "revolução literária na minha vida. Aldous Huxley, George Orwell, Thomas Hobbes são exemplos de autores descobertos nesse contato com as canções do disco. E, especialmente para mim, o disco foi responsável por uma releitura dos conceitos de música, com conteúdo sócio-introdutório.
Pitty neste disco mostra o mundo sombrio criado pelo sistema capitalista e as revoluções trabalhistas que criaram grande dependência de direção nas pessoas. Me lembro durante minhas aulas do meu curso de administração, sobre como o sistema administrativo se alimenta e se configura como aberto e, logo dotado de grande sinergia. É possível comparar a sonzera da Pitty e as teorias apresentadas, e os esquemas com vários teóricos da administração. Taylor, Fayol, McGregor e, por incrível que pareça Pitty me fez ter genuína atenção a esses movimentos da história da concepção do trabalho humano. Me lembro especialmente de Fayol e as teorias do homo economicus e as discussões da ética por trás do consumo e produção de bens. Daria para fazer um TCC encima desses pensamentos.
Pitty foi capaz de criar uma onda de auto aceitação incomum. Portanto, quem vai à shows da Pitty encontrará facilmente homossexuais e pessoas "desajustadas" cuja letra de "Máscara", por exemplo teve exímia importância. E, ironicamente, vem a tona mais um autor: Jean Jacques Rousseau e o movimento teórico de contrato social me fazem refletir o papel do poder que a sociedade tem sobre o Estado.
Eu poderia falar nessa análise sobre os aspectos técnicos de cada canção, ou sobre o quanto eu me diverti ouvindo cada uma delas. Mas preferi trazer um pouco da minha visão literária sobre o disco, que eu, particularmente carrego comigo eternamente. Por isso, ACN é tão maravilhoso. No furacão da estética, da forma como objeto absoluto do estudo, a teoria e a abstração são os mais importantes. Viver a música, sentí-la não só como entretenimento, mas como um vínculo com as discussões e palco das inquietações, esse é o legado.
Ouça sem parar:
"Máscara" / Admirável Chip Novo" / Semana que vem" / "O Lobo" / "Equalize" / "Teto de Vidro"
Ficha técnica:
Gravadora: Deck
Gênero: Hard Rock / Hardcore / Rock / Poprock
Ano: 2003
Nota: 10